“É veado, bicha ou homossexual? Como se fala? Crioulo, negro, pessoa de cor ou afro-brasileiro?” Foi com essas frases de impacto que Pedro Bial abriu o primeiro “Na Moral”, seu programa de debates que estreou ontem na Globo.
Há anos afastado do “Fantástico” e aparecendo no vídeo apenas três meses por ano, durante a temporada anual do “BBB”, Bial vinha planejando há algum tempo uma nova incursão televisiva. E eu preciso confessar que não punha muita fé.
Depois do semi-desastre que foi a estreia do “Encontro com Fátima Bernardes” na semana passada, temi que o formato apresentador-convidados-plateia já estivesse mais do que desgastado.
Também me assustava a perspectiva de Bial se empolgar com a própria erudição e descambar para um daqueles longos monólogos enigmáticos que ele faz para fingir que o “Big Brother” é profundo e consequente.
Felizmente, nada disso aconteceu. “Na Moral” conseguiu tocar num tema sério, o politicamente correto, com leveza, bom humor e precisão.
É verdade que os convidados tiveram pouco tempo para expressar suas opiniões, o que talvez tenha impedido que o pau comesse de verdade. Apesar das posições supostamente antagônicas, Luís Felipe Pondé e Antônio Carlos Queiroz pareciam estar quase sempre de acordo. E quem conhecia Maria Paula só do “Casseta & Planeta” deve ter se surpreendido com as declarações equilibradas da moça.
Se o debate correu morno, pelo menos não se transformou na avacalhação costumeira de um “Superpop”. Também houve um momento em que eu achei que estava vendo “Quem Convence Ganha Mais”, quando um homem acusado de assédio sexual no trabalho foi confrontado no palco com sua vítima. Mas era pegadinha da produção: os dois se casaram e são felizes.
O programa durou pouco mais de meia hora, e isto foi tanto um defeito quanto uma qualidade. Defeito: o tempo exíguo fez com que os assuntos variassem depressa demais, com o fantasma da superficialidade rondando a edição. Qualidade: por volta da meia-noite, poucos espectadores têm pachorra para mergulhar numa discussão grandiloquente.
Claro que “Na Moral” pode ser aperfeiçoado, e eu começaria repensando a necessidade de se ter uma atração musical. Alexandre Pires teria rendido melhor se pudesse discorrer mais sobre a polêmica racista em que se envolveu e não precisasse também atacar de DJ.
Não dá para se exigir conclusões transcendentais de um programa tão curto, ainda mais na TV aberta. Mas o primeiro “Na Moral” conseguiu provocar algumas questões interessantes no fim da noite, e isto já é bacana. Vamos ver como evolui.
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