Nos últimos anos, muitos foram os projetos de sucesso criados de olho nesse nicho
Há tempos as crianças não estão entre as prioridades das emissoras abertas brasileiras. Ainda mais diante do crescimento da TV a cabo no País e o aumento cada vez maior de canais segmentados para o público infantil entre os pagos. Mas, quando o assunto é teledramaturgia, a coisa muda de figura. Nos últimos anos muitos foram os projetos de sucesso que foram criados de olho nesse nicho. Principalmente em adaptações de originais estrangeiros, como Chiquititas, Rebelde e, mais recentemente, Carrossel.
Esta última, aliás, vem incomodando a concorrência, marcando quase sempre médias para o SBT entre 13 e 15 pontos de audiência. Um dos melhores resultados atualmente da emissora de Sílvio Santos, atraindo, segundo pesquisas, um público que não é só de crianças, mas também de adolescentes e adultos. “A ideia foi da minha filha Daniela (Beyruti diretora artística e de programação do canal). Ela lembrava dela assistindo com a gente e pensou em algo que pudesse reunir mais uma vez a família inteira na frente da TV”, resume Íris Abravanel, responsável pela adaptação da novela mexicana que chegou a incomodar o Jornal Nacional quando foi exibida, em 1991.
Atualmente, Carrossel por vezes alcança mais que o dobro da audiência da segunda temporada da concorrenteRebelde, versão brasileira feita pela Record do sucesso da Televisa. Coincidentemente ou não, em agosto, sua autora Margareth Boury adicionou personagens mais novos que os adolescentes que protagonizam suas histórias. Segundo ela, uma forma de dar um gás na trama e se preparar para o que ainda pode vir. “Precisávamos de gente nova, de histórias que continuassem a chamar a atenção do nosso publico, que é de crianças. Por que não trazer rebeldes mirins? Continuamos com os protagonistas a todo vapor e ainda temos apostas para o futuro”, justifica-se.
As apostas em folhetins focados no público infantil não são novidades. Angélica fez isso em seu programa na Globo, na década de 1990, e o SBT mesmo gravou a adaptação nacional de Chiquititas, projeto que chegou a ter quatro temporadas. “A gente era feliz e sabia”, lembra Flávia Monteiro, intérprete da bondosa Carolina, que dirigia um orfanato na trama. Mas o mercado voltou a se abrir mesmo para esse tipo de segmentação no Brasil depois que a Band conseguiu êxito na sua versão de Floribella, estrelada por Juliana Silveira e escrita por Patrícia Moretzsohn e Jaqueline Vargas. “Acho que quebrou um paradigma mostrando que é possível falar com o público infantojuvenil de maneira menos didática e atraindo também a família. Talvez isso tenha inspirado outras produções”, supõe Patrícia, que participou da equipe que escreveu a primeira temporada de Malhação, da Globo, quando ainda era uma adolescente. E por falar no seriado, a nova temporada, que estreou no último dia 13, voltou a ser ambientada em um colégio, assim como Carrossel e Rebelde.
Mas nem só as tramas escritas necessariamente para o público infantojuvenil caem no gosto desse perfil. Quando começou a escrever Caminhos do Coração, em 2007, na Record, Tiago Santiago tinha uma trama policial que envolvia um assassinato, um casal romântico e um grupo de mutantes com poderes sobrenaturais. Sabia que, caso algo não desse certo, tinha para onde carregar mais as tintas. E se tornou um dos autores com um dos mais longos trabalhos no ar. Com três temporadas, sua trilogia Mutantes permaneceu quase dois anos ininterruptos em exibição. Foram justamente as habilidades especiais de muitos de seus personagens que garantiram médias acima de 20 pontos em alguns capítulos, mesmo quando disputou a atenção dos telespectadores com a novela A Favorita, da Globo. Mas explorar o universo infantojuvenil sempre foi uma característica de Tiago, que trabalhou como colaborador de tramas como Vamp, Olho no Olho e Uga Uga, na Globo. “Na minha próxima novela do SBT, também terei muitas crianças. Escrever para esse público é uma característica que varia de autor para autor e, também, de novela para novela”, explica.
Assim como Tiago Santiago, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, que escrevem Cheias de Charme, não estão necessariamente interessados em segmentar a novela. Mas o folhetim das 19 horas da Globo, além de ser todo colorido e cheio de personagens caricatos, ganhou recentemente um colégio entre seus cenários fixos, garantindo novos personagens e conflitos infantojuvenis para a trama. “Isso estava previsto. Nossas histórias centrais já foram desenvolvidas e podemos partir para contar outras secundárias agora”, explica Filipe. Os dois defendem que escrevem para todas as faixas etárias, sem se preocupar em focar em outro público. “Nossa novela tem uma estética bem colorida, leve e divertida. Então, não nos surpreende que ela tenha cativado parte do público de crianças e adolescentes desse horário”, analisa Izabel.
Adoração sem limites
Com o crescimento no número de lares e escolas com acesso à internet, atores que interpretam os personagens principais de tramas focadas no público infantojuvenil se transformam facilmente em ídolos desta geração na grande rede. Tanto que é bem fácil ver os nomes deles em diversas votações populares de prêmios ligados à tevê. E, inclusive, ganhando a maior parte deles. “Tenho um milhão de seguidores no Twitter, mas sei que algumas pessoas têm várias contas e nos seguem. Não deixo que isso me influencie. E me preocupa um pouco que algumas crianças deixem de estudar para só viver em função de Rebelde“, frisa Lua Blanco, que interpreta a determinada Roberta no folhetim da Record.
Com o crescimento no número de lares e escolas com acesso à internet, atores que interpretam os personagens principais de tramas focadas no público infantojuvenil se transformam facilmente em ídolos desta geração na grande rede. Tanto que é bem fácil ver os nomes deles em diversas votações populares de prêmios ligados à tevê. E, inclusive, ganhando a maior parte deles. “Tenho um milhão de seguidores no Twitter, mas sei que algumas pessoas têm várias contas e nos seguem. Não deixo que isso me influencie. E me preocupa um pouco que algumas crianças deixem de estudar para só viver em função de Rebelde“, frisa Lua Blanco, que interpreta a determinada Roberta no folhetim da Record.
Fernanda Souza não chegou a viver esse boom quando encarnou a doce Mili de Chiquititas. E hoje em dia agradece pelo fato do grupo de atores mirins da trama não ter tido sequer a chance de se deslumbrar com o sucesso. Na época, como a novela era rodada na Argentina, as crianças precisavam morar e frequentar a escola por lá. Vinham de dois em dois meses visitar a família, ficando menos de uma semana no Brasil. Com isso, não tinham tanta dimensão do sucesso que faziam. “Foi bom porque pudemos aproveitar para nos concentrarmos só nos estudos e no trabalho. Uma vez, eu estava passando uns dias em São Paulo e lembro de quase não conseguir sair de um shopping”, recorda.
Instantâneas
Em Amor Eterno Amor, a personagem Clara, de Klara Castanho, é um dos papéis mais importantes do folhetim. A menina possui dons ligados à espiritualidade, temática central da trama.
Em Amor Eterno Amor, a personagem Clara, de Klara Castanho, é um dos papéis mais importantes do folhetim. A menina possui dons ligados à espiritualidade, temática central da trama.
Leonardo Miggiorin estreou na TV na novelinha Flora Encantada, que era exibida dentro do infantil Angel Mix, comandado por Angélica, na Globo.
Chiquititas foi responsável por revelar diversos talentos que hoje fazem sucesso na tevê. Foi dali que surgiram atores como Bruno Gagliasso, Kayky Brito, Sthefany Brito e Jonatas Faro.
Antes de Chiquititas, em 1996, o SBT exibiu a novela Colégio Brasil, também voltada para o público infantojuvenil. Foi a estreia de Paloma Bernardi na tevê ¿ que só voltaria a atuar novamente em Caminhos do Coração ¿ Os Mutantes ¿ e a segunda novela de Carla Diaz, hoje no elenco de Rebelde e que também marcou presença em Chiquititas.
Texto retirado do Portal Terra
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