Depois
de uma enxurrada de músicas com pouca qualidade artística, as quais os
coros são compostos por monossílabos onomatopéicos – ai ai, tchu/tcha,
oioioi – enfim surge um oásis no meio deste deserto fonográfico, a
trilha sonora da novela “Carrossel”.
A classe C chegou com tudo,
principalmente com dinheiro. E foi pensando nisto que as mídias tiveram a
ideia de popularizar seus produtos, a fim de atrair este novo
consumidor. O problema é que confundiram popularizar com nivelar por
baixo. Assim, a programação da TV, o cinema, a música e até a literatura
comercial se rendeu a uma estética pobre, de fácil assimilação com o
objetivo de agradar à massa.
A obrigação de instruir à população é
do governo, porém num país em que a educação é eficiente apenas no
discurso dos candidatos políticos, a televisão deveria ter mais
responsabilidade cultural, principalmente a Rede Globo que detém o
monopólio da audiência. Não cabe discutir o merecimento desta
supremacia, mas sim o conteúdo apresentado pela emissora.
A trilha
sonora de “Avenida Brasil” prestou um desserviço à nação. Os temas que
compõe a trilha da novela das nove acabam se tornando sucesso imediato,
por isso é uma pena que as escolhidas foram de tanto mau gosto.
Defendo
o direito de se ouvir “Tchu tcha tcha”, “Tá faltando homem”, “Assim
você mata o papai”, entre outras, porém impostá-las a âmbito nacional é
contribuir para o emburrecimento, já que músicas que não exigem nada do
ouvinte também não acrescentam coisa alguma, apenas reduz sua percepção,
tornando-o mentalmente preguiçoso.
Não é necessário que seja
Mozart ou Beethoven para ter qualidade artística, a simples música da
abertura de “Carrossel” possui grande poeticidade, pois valor estético
independe do gênero musical. Arnaldo Saccomanni chefiou com maestria a
trilha do remake mexicano, trazendo compositores como Toquinho e Chico
Buarque. A regravação de “A Banda” cantada pelos atores-mirins
possibilita que o público infantil se acostumem desde já com o que
chamamos de música de qualidade.
Há um preconceito no Brasil de
que coisas antigas não prestam. A trilha de “Carrossel” desfaz esta
concepção errônea trazendo entre suas regravações uma nova versão do hit
dos anos 90, “Não Faz Mal”, de Mara Maravilha. Muitos podem pensar que
Mara é ruim por estar fora da mídia, ultrapassada, “flopada”… Porém é
preciso entender que assim como tantos outros cantores do passado, ela
possui uma história que tem que ser levada em consideração. Mara fez um
enorme sucesso em toda a América Latina, apresentou programas na
Argentina, gravou músicas e clipes em espanhol… Mas o que se pode
esperar de um país que insiste em ignorar o idioma e a cultura dos povos
vizinhos?
As músicas criadas exclusivamente para “Carrossel”
também não decepcionaram. O rap do Cirilo, o rock do Jaime, a canção
romântica da Laura e as demais que compõem o segundo Cd são todas bem
trabalhadas. Mesmo sendo destinada a um público de pouca maturidade, a
trilha sonora não nivelou por baixo, como foi o caso de “Avenida Brasil”
e também da nova novela da Record, “Balacobaco”.
É importante
dizer que apesar dos produtos de conteúdo duvidoso, há em cada emissora a
tímida tentativa de trazer algo de qualidade, como é o caso de “Lado a
Lado” e ‘Surbúrbia” na Globo, as minisséries bíblicas da Record, “O
Maior Brasileiro de Todos os Tempos” no SBT… Mas não se engane, o que
predomina é o esvaziamento intelectual. Os governantes agradecem.
Por Uziel Santos - Blogs POP / Séries & TV
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