domingo, 5 de agosto de 2012

Novelas apostam em enriquecimento rápido para atrair o público


Em 'Fina Estampa', Griselda, personagem de Lilia Cabral, ganhou na loteria. Foto: TV Globo/Divulgação
Em ‘Fina Estampa’, Griselda, personagem de Lilia Cabral, ganhou na loteria
As novelas costumam refletir algumas situações e dilemas da sociedade. Não é à toa que a mobilidade social é um dos aspectos mais recorrentes nas tramas. Diversas histórias abordam o enriquecimento repentino de personagens, seja por herança ou sorte, o que gera um sentimento de identificação dos telespectadores. Isso ocorreu recentemente em Fina Estampa, da Globo, e Vidas em Jogo, da Record, onde os protagonistas ganharam na loteria. E, atualmente, na bem-sucedida Cheias de Charme.
A ascensão repentina das três empregadas pelo sucesso artístico denota também uma espécie de loteria na trama. Ou seja, o assunto sempre produz tramas que fazem o público sonhar. “Cada telespectador se coloca no lugar do personagem e se pergunta: ‘O que eu faria se enriquecesse da noite para o dia?’. Isso mexe com os desejos mais latentes de uma sociedade que está em franco crescimento econômico”, argumenta o doutor em Teledramaturgia Brasileira e Latino-americana pela USP, Mauro Alencar. A mobilidade social pode alterar a imagem de alguém dentro da sociedade. As pessoas começam a se olhar e enxergar os outros de formas diferentes. “É perceptível que as coisas ficam mais fáceis quando se é rico. A imagem é tudo hoje em dia. O telespectador procura sonhar a partir daquela imagem construída”, aposta Aguinaldo Silva, autor de Fina Estampa.
Antes reservadas a papeis secundários ou sem grande importância, as empregadas alcançaram espaço de protagonistas em Cheias de Charme. Na trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, as domésticas de Taís Araújo, Isabelle Drummond e Leandra Leal obtiveram sucesso através de um vídeo postado na internet. A partir de situações raras como estas, o público consegue traçar uma linha de identificação para sonhar e se projetar. Mas, segundo alguns autores, não é necessariamente a ostentação da riqueza súbita que atrai a audiência.
“O público não cansou de ver histórias boas. Mas o povo brasileiro está em um momento em que está muito feliz com ele, vaidoso, está gostando de se ver”, avalia Izabel, pontuando um dos motivos de ter três domésticas no eixo central da trama. De acordo com a antropóloga e professora da PUC-Rio, Sônia Giacomini, o público não credita apenas ao sucesso a identificação de grupos sociais a certos núcleos da novela, mas sim às histórias instigantes. “Sempre há o núcleo pobre e o núcleo aristocrático. Essa abertura social é essencial para fecundar a imaginação das pessoas a se moverem socialmente”, analisa.
A herança inesperada é outro recurso muito utilizado na teledramaturgia para justificar a ascensão social repentina. É bastante comum personagens serem agraciados com grandes quantias de dinheiro de parentes que nunca ouviram falar ou que reaparecem depois de anos. É o caso do papel de Gabriel Braga Nunes emAmor Eterno Amor. Na trama de Elizabeth Jhin, o personagem Rodrigo descobre que é o único herdeiro de uma grande fortuna deixada pela mãe biológica. “O dinheiro não mudou a essência do personagem, mas ele passou a ter outro comportamento, um figurino mais sóbrio, ficou mais sofisticado e usou esse dinheiro que surgiu para ajudar as pessoas”, explica Gabriel.
Outra forma bastante utilizada para alterar a vida de algum personagem é a loteria. Em Fina Estampa, Aguinaldo Silva utiliza o enriquecimento repentino de Griselda, vivida por Lília Cabral, como artifício para modificar completamente um personagem em um curto espaço de tempo. “Manter a simplicidade ajudou a Griselda a fazer tanto sucesso com o público. É como se, mesmo sem ganhar na loteria, o telespectador pudesse se ver ali. Funciona como um espelho de projeção social para quem assiste”, deduz o autor.
A incerteza da loteria dá subsídios para que os telespectadores possam sonhar a partir dessa história. “Todo mundo pode ganhar na loteria. E a ficção tem de ser instigante e atiçar o sonho das pessoas. O público busca uma emoção e vivencia o que a realidade nem sempre permite”, afirma Sônia. Caso semelhante ocorreu na novela Vidas em Jogo, da Record. Na trama de Cristianne Fridman, 10 amigos pobretões ganham na loteria o prêmio de R$ 200 milhões. Nesse caso, no entanto, a história tem uma conotação social ao mostrar que cada um deles só poderá ter a quantia integral do prêmio após cumprir metas, como ser menos avarento ou dar mais atenção aos filhos, por exemplo.
Terra

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