Não
é segredo para ninguém que o cenário preferido para as novelas é o Rio
de Janeiro. Mas os personagens de “Amor à Vida” terão São Paulo como sua
casa. Vamos dar uma olhada na ex-cidade da garoa.
São
Paulo costuma ser vista como uma cidade cinza, metropolitana, que não
para nem por um segundo. A concepção não está errada – a cidade é mesmo
tudo isso, mas existe um elemento humano muito distinto e pouco
abordado. É justamente nesse ponto que Walcyr Carrascopretende firmar a
base das relações sociais em “Amor à Vida”: na enorme mistura cultural,
econômica e étnica que é a cidade. E, aqui vai apenas minha opinião, se
tudo der certo, esta deve ser a primeira vez que uma novela consegue
capturar isso.
“Sangue Bom”,
a atual novela das 19h, também se passa em São Paulo e também tenta
mostrar a cidade de uma forma mais abrangente. Mas “Sangue Bom” é, por
definição, uma novela mais positiva, enquanto “Amor à Vida” deve mostrar
tanto o limpo quanto o sujo dessa cidade. Mesmo assim, o retrato da
novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari tem se mostrado bem
feito, apesar dos excessos no idealismo e na elite mostrada. Sim, aquela
elite existe, mas a novela funciona melhor quando está tentando mostrar
como essa desigualdade é ridícula, e não quando mostra o excesso como
algo bom.
Outro
lado muito importante da representação de São Paulo em “Amor à Vida” é o
esforço da equipe para situá-la no tempo atual e não numa versão
fantasiosa em que tudo funciona perfeitamente, que provavelmente nunca
existiu em momento algum do nosso passado. “Guerra dos Sexos” teve aí um
de seus maiores problemas: na tentativa de ser fiel à versão original, a
novela falhou em adaptar-se aos nossos tempos, e acabou alienando
completamente o público ao mostrar uma cidade que não existe, nunca
existiu e provavelmente nunca existirá. A São Paulo de “Amor à Vida”
deve ser áspera, com as raízes fincadas na realidade. Ônibus
incendiados, trânsito caótico, diversidade cultural, e, principalmente,
um mar de pessoas em que um indivíduo é praticamente impossível de se
encontrar, e mesmo sendo impossível, sempre encontramos algum conhecido
andando pela cidade. Essa dualidade é a alma de São Paulo.
Um
lado muito importante de uma novela (e qualquer obra de ficção, na
verdade) é que ela nos faça enxergar algo de nós mesmos e de nossas
vidas nos personagens e situações. Quando essa conexão acontece, metade
do trabalho já está feito. A outra metade consiste em criar uma trama
que faça o público voltar todos os dias para ver o que está acontecendo.
“Amor à Vida” tem tudo para cobrir as duas partes, situando a história
dos Khoury em nosso mundo.
Portal POP – Blogs Coisas de Novelas – Leandro Fernand
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